quarta-feira, 18 de maio de 2016

18 DE MAIO: O QUE A PSICOLOGIA TEM COM ISSO?


O 18 de Maio é uma data importante e merece ser lembrada: é o Dia da  Luta Antimanicomial e o Dia de Combate ao Abuso e Exploração Contra Crianças e Adolescentes. Você sabe o que significa isso?
Homens e mulheres presos em hospitais psiquiátricos, tratados em condições subhumanas; esse foi o cenário encontrado durante anos nos hospícios brasileiros – o Hospital Colônia de Barbacena está aí pra comprovar. Celas lotadas – sim, celas, pois ali além de ser um depósito, era uma prisão – com pessoas seminuas, jogadas à própria sorte, que passavam fome, frio, além de serem dopadas de medicamentos e sem nenhuma condição física, psicológica e estrutural para o seu acolhimento. Aliás, acolhimento nunca foi o objetivo. 
Os manicômios serviam como um espaço de depósito de pessoas “loucas”; mas não sejamos ingênuos. Ali era um local de enclausuramento de qualquer cidadão que “manchava a sociedade”: prostitutas, lésbicas, homossexuais, deficientes, pessoas em situação de rua, viciados e os famosos “loucos” – os sujeitos que sofriam de algum tipo de psicopatologia. O que falar então dos tratamentos? Eletrochoques, lobotomia, falta de água e alimento, além de permacerem boa parte do tempo acorrentados, eram alguns deles. Imagina a maravilha viver em um ambiente desse, não é mesmo?!
E o resultado? Mais de 60 mil mortes! (isso somente no hospital psiquiátrico de Barbacena). Não é a toa que o livro de Daniela Arbex chama-se Holocausto Brasileiro; foi um verdadeiro massacre a essa parcela da população brasileira! Essa realidade não está tão distante; em 1980 esse manicômio ainda era frequentado (sem falar nos outros espalhados pelo país).
Esse Movimento começa então na década de 80, mais especificamente em 1987, como uma ação política no âmbito da saúde pública brasileira, sendo encabeçado pelos profissionais da saúde que buscavam um SUS que atendesse também aos direitos desses sujeitos. 
Também não se pode esquecer que hoje representa o dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de crianças e adolescentes. Ele foi fruto do caso de uma garota de oito anos do Espírito Santo que, além de ser sequestrada e estuprada, foi morta pelos seus algozes; mas esse não é um caso isolado. Milhares de crianças diariamente sofrem abusos, sejam sexuais, sejam psicológicos, de membros da família, de amigos dos familiares, de colegas da escola ou de vizinhos. E o que estamos fazendo com isso? Nossas crianças morrem todos os dias, vítimas desses atos; quando não, são vendidas – literalmente.
                
Mas o que a Psicologia tem a ver com o 18 de Maio? 
No Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho Federal de Psicologia, 2005, p. 7) tem como princípios fundamentais do profissional:

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

O profissional de Psicologia, então, tem tudo a ver com esses assuntos. Somos nós quem iremos ocupar esses espaços e acolher esses sujeitos; somos nós, também, que precisamos participar de formações políticas e da busca de garantia de direitos. Durante muito tempo a Psicologia permaceu apática frente às questões sociais que gritavam na nossa porta e fechava os olhos para seu compromisso sócio-político. Eu estou no sétimo período do curso de Psicologia, em 2016, e ainda vejo profissionais jogando nos seus consultórios seus valores morais sobre os pacientes e se calando diante de questões que eles deveriam abraçar.
Também vejo profissionais antiéticos que culpam as crianças que são abusadas e que defendem o enclausuramento de pessoas que sofrem de algum tipo de transtorno; mas vejo também excelentes colegas que abraçam a causa e fazem da sua profissão um espaço ético-político. Precisamos sim defender e participar do 18 de Maio, mas não apenas nessa data. Preciamos vivenciar e por em prática o 18 de Maio todos os dias; precimos, mais do que ser críticos, criar estratégias que possam por em prática nossas ações pelas quais tanto brigamos.
É nessa Psicologia que eu acredito, uma Psicologia forte, ética, comprometida e política que lute pelos direitos desses sujeitos que passaram (e ainda passam) tanto tempo marginalizados. É nessa Psicologia que eu embasarei a minha prática.

Clariana Rodrigues Trabuco

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